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Rio de Janeiro-RJ: Manifestação pelo fim do genocídio nas favelas se une em solidariedade à Ocupação dos desabrigados da CEDAE.

Abril 08, 2015 - 00:00
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Em sequência as manifestações ocorridas no Complexo do Alemão nos dias 03 e 04 de abril, nesta quarta-feira (08 de abril), mais uma manifestação foi convocada, desta vez no Largo do Machado, zona sul do Rio de Janeiro, com a intenção de caminhar até o Palácio da Guanabara, casa do executivo do Estado.

A concentração foi marcada para as 17hs, horário de maior circulação de pessoas pela região. Mais de duas horas depois, xs manifestantes tomaram a rua das Laranjeiras em direção ao palácio da Guanabara. A PMERJ, mais uma vez, fez o seu cordão de isolamento ao redor da passeata, dificultando a visibilidade das faixas e a livre expressão.

Como já denunciamos em outras publicações, esse padrão de comportamento vem ocorrendo desde o início do ano, mostrando o caráter coercitivo que o direito de se manifestar vem sofrendo. Desde junho de 2013, tem sido claro o empenho na criminalização aos movimentos sociais de base, que lutam por igualdade social e os direitos mais fundamentais.

Vale salientar, que algo completamente diferente ocorre em movimentos que pedem a intervenção militar, por exemplo, que não só não sofrem com a coerção através do cordão de isolamento e a violência policial, como parecem que são incentivados e apoiados pela polícia.

Nesta quarta, os movimentos sociais se reuniram para pedir o fim da militarização nas comunidades, e o fim da violência causada pelas UPPs e exército dentro das favelas. Os que mais têm sofrido com essa intervenção militar, são xs moradorxs que reclamam não estarem sendo respeitados e vêm sofrendo com constantes assassinatos, incluindo de crianças e idosos. Na última semana, 4 pessoas foram assassinadas o Complexo do Alemão, incluindo duas crianças e uma senhora.

Veja a publicação sobre a Manifestação contra a violência no Complexo do Alemão ocorrida no dia 04 de abril.

Cartazes e gritos denunciavam o genocídio da população negra e pobre sob a desculpa de pacificação e luta contra o tráfico. Lembravam também de Eduardo, criança de 10 anos assassinada no dia 02, com um tiro na nuca por um policial em frente a sua casa, em um beco no Complexo do Alemão.

Após chegarem até as proximidades do Palácio Guanabara a polícia fechou a rua, impedindo que a manifestação chegasse ao seu destino. Alguns ativistas tentaram conversar com o comandante da operação para entender qual o motivo de mais essa limitação ao direito de se manifestar. No entanto, o tenente responsável não quis dar qualquer satisfação.

Com isso, o protesto decidiu continuar sua caminhada pela região, seguindo novamente ao Largo do Machado por outro caminho. Ao chegar próximo a praça, xs ativistas decidiram ir em direção a Ocupação em Botafogo, realizada pelxs desabrigadxs expulsxs do prédio abandonado da CEDAE, na região portuária do Rio.

Cerca de 300 pessoas foram despejadas a quase um mês pela guarda municipal e a polícia militar, sem nenhuma assistência social. A prefeitura prometeu que os moradores seriam cadastrados em programas sociais relacionados a moradia mas nada aconteceu. Com isso, cerca de 100 dessxs moradorxs passaram as últimas semanas dormindo na praça da Cinelândia, sofrendo constantes ameaças pela guarda municipal e suportando chuvas e frio.

Foi então, que nos últimos dias resolveram ocupar uma antiga sede do Clube de Regatas do Flamengo, alugado e abandonado por uma das construtoras do empresário Eike Batista. O prédio estava sendo reformado para se tornar um hotel, mas as obras estavam paradas a aproximadamente dois anos. Atualmente cerca de 300 pessoas estão ocupando o local.

Um morador alegou: “A gente está aqui lutando pelo nosso direito de moradia, e o prefeito tirou a gente lá da CEDAE, dos barraquinhos, e fica prometendo que vai fazer algo por nós, mas não faz nada.”

Quando a manifestação chegou às portas da ocupação, os moradores expuseram faixas e cartazes nas janelas e gritavam por socorro. Algum tempo depois uma senhora bastante agitada berrou três vezes: “Nós estamos oprimidas, estamos oprimidas, estamos oprimidas!”

Em entrevista, moradorxs denunciaram que após terem ocupado o espaço, a policia fechou as entradas do prédio, impedindo que qualquer um entrasse ou saísse para trabalhar ou buscar alimento e água. Caso alguém saísse, seria impedido de retornar, tendo que ficar novamente na rua.

Segundo um rapaz, “agora eles estão usando tática militar para prender a gente aqui dentro, para a gente não comer nem beber, a gente não pode sair nem entrar.”

Denunciaram também, que estavam sendo impedidos de receberem doações de alimentos e água. Uma ocupante gritava “estou com sede”, enquanto outros falavam que já não tinham mais o que comer. Denunciaram também que a polícia estava constantemente jogando gás de pimenta dentro do local para tornar ainda mais insuportável a permanência.

A passeata não ficou muito tempo em frente ao prédio para evitar que a polícia utilizasse a manifestação como argumento para intensificar a repressão contra a ocupação. No entanto, vários jornalistas permaneceram e fizeram entrevistas, através dos portões de grade, com as famílias. Pessoas de todas as idades, incluindo várias crianças pequenas e idosos, integravam a ocupação. Uma senhora de idade, falou que está inscrita a 10 anos no programa “minha casa, minha vida”, mas que até hoje não conseguiu o direito a moradia.

“Eu estou inscrita a 10 anos no minha casa, minha vida, todas as vezes que vou lá não tem casa: dona Célia a senhora não tem, não tem sorteio!”

Um senhor fez uma explanação em repúdio as mídias corporativas, que não apareciam para registrar a situação deles, afirmando que somente a mídia independente os apoiavam e buscava entender a realidade delxs. Chegando, inclusive, a exemplificar que cinegrafistas da Record estavam próximos ao local, mas apenas registravam a distância, enquanto cinegrafistas independentes estavam ali os entrevistando.

Após passar pela ocupação, a manifestação retornou ao Largo do Machado e se dispersou. Nenhuma confusão iniciada nem pela polícia, nem pelos manifestantes foi registrada.

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